terça-feira, 19 de junho de 2012

NOTA DE REPÚDIO À AÇÃO DA DIRETORIA ACADÊMICA E DA POLÍCIA MILITAR NO CAMPUS GUARULHOS DA UNIFESP

Os Centros Acadêmicos da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, declaram total repúdio à ação truculenta da Polícia Militar do Estado de São Paulo no Campus Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a pedido da Diretoria, no dia 14 de junho de 2012.

Diversos membros dos Centros Acadêmicos estiveram presentes no campus e puderam presenciar toda a violência e brutalidade presentes em mais uma desastrosa ação da Polícia Militar. Deste modo, repudiamos também qualquer versão que busque justificar o fato ocorrido.

O dia 14 de junho de 2012 foi marcado por violência e desespero e o Campus Guarulhos, da Universidade Federal de São Paulo, convertido em um verdadeiro cenário de guerra.

Naquele dia foi realizada uma Assembleia Estudantil Intercampi. Quando encerrada, os estudantes realizaram uma passeata pelo bairro, manifestação pacífica, que correu conforme previsto. Ao retornarem para o Campus, parte dos manifestantes continuou a ação em frente à Diretoria Acadêmica com palavras de ordem contra a atual gestão da EFLCH.

Com a chegada da PM, os manifestantes passaram a repetir palavras de ordem exigindo que esta se retirasse do espaço da Universidade. Quando, então, uma estudante foi sumariamente detida, sem justificativas, sendo tratada com grande violência. O que gerou um grande sentimento de revolta entre os estudantes. (Link para vídeo destes momentos http://noticias.uol.com.br/videos/assistir.htm?video=imagens-mostram-tumulto-entre-estudantes-da-unifesp-e-pm-04024E9C316AD8C12326&mediaId=12865199).

A partir daí, os policiais passaram a se utilizar de suas armas para afastar e coibir qualquer ação, de qualquer estudante.

Consideramos negligente a atitude tomada pelo diretor acadêmico, cujo dever é garantir a integridade da Comunidade Acadêmica e, deste modo, trazemos a público alguns fatos importantes:
1.    A Polícia Militar foi acionada sem que os demais funcionários presentes no campus fossem devidamente comunicados. Havia muitos funcionários e alunos no campus que não participavam da manifestação e que utilizavam as dependências da cantina, biblioteca, laboratório de informática e administração.

2.    Havia crianças no campus naquele momento; o Diretor do campus tinha plena ciência do fato, como mostra o áudio da ligação feita para a polícia, divulgado pela mídia. (Link: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/06/audio-mostra-que-unifesp-chamou-pm-para-manifestacao-de-alunos.html

3.     Os estudantes foram detidos ao acaso, quando corriam em direção ao Restaurante Universitário onde, por fim, se viram encurralados pela polícia. Inclusive alunos que não participavam da manifestação foram presos. Entre eles estão um ex-aluno e uma estudante de outra instituição de ensino. Ambos figuram entre os vinte e dois injustamente processados.

4.     Os alunos que conseguiram sair, mas que insistiram em  acompanhar o desenrolar da situação posicionando-se à entrada do campus foram expulsos pela PM. Em seguida os portões foram trancados de forma a não permitir a visão do que se passava lá dentro.

5.    Os estudantes, de ambos os sexos, detidos e algemados, foram submetidos à tortura física e psicológica e tornaram-se alvo de agressões com o uso de cassetetes, spray de pimenta e deflagração de explosivos próximo ao seu entorno.

6.    A quase totalidade de policiais presentes naquela noite não portava identificação de qualquer natureza.

7.    Os estudantes foram levados pela Polícia Militar em um ônibus municipal de Guarulhos.

Entendemos que todos esses fatos relatados até aqui são ainda mais inadmissíveis por compreendemos que a Polícia Militar é uma instituição despreparada para lidar com uma série de situações; sua atuação sempre envolve o uso de força desmedida com ações extremamente violentas, como ocorre cotidianamente nas regiões de periferia e nos mais variados atos e mobilização.

Dessa forma, quando a diretoria do campus se utiliza dessa instituição para recompor a ordem ela está sendo conivente com essas ações e está deliberadamente promovendo a violência.

Por isso repudiamos a postura do Diretor Acadêmico Prof. Dr. Marcos Cezar de Freitas em ser conivente as ações da Polícia Militar no Campus Guarulhos no dia 14 de junho de 2012.

Compreendendo que segurança é sinônimo de proteção e não de violência institucional, ou violência de Estado. Reafirmamos a recomendação da Comissão de Direitos Humanos da ONU que prevê o fim das Polícias Militares, que vem violando, sucessivamente, os direitos humanos do povo brasileiro.

Esclarecemos ainda que as entidades signatárias continuam defendendo o direito de luta e reivindicação, assim como defendem o diálogo e o debate como fundamentais à Universidade.

Assinam essa moção:

Centro Acadêmico de Pedagogia Cecília Meireles – CAPED
Centro Acadêmico de História da Arte – CAHARTE
Centro Acadêmico de História – CAHIS
Centro Acadêmico de Letras – CAEL
Comissão Pró-CACS
Comissão Pró-CAFIL