segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Carta ao Conselho de Letras

29/2/2012

Carta ao Conselho de Letras

O Centro Acadêmico dos Estudantes de Letras (CAEL), por meio de sua gestão, idealiza a execução de um forum entre alunos e professores do curso, no primeiro semestre de 2012. A proposta do evento sustenta-se, eminentemente, na tão visada aproximação e consolidação do diálogo entre as duas categorias.

Todos sabemos que se trata de um curso em construção e, mais, que neste ano formará a primeira turma. Seria oportuno e interessante, assim, que esses alunos dessem depoimentos sobre sua trajetória acadêmica, expusessem seus anseios e angústias, contassem suas expectativas, críticas etc; que ouvissem os docentes e os docentes os ouvissem. Uma pergunta a se fazer, por exemplo: os estudantes estão de fato adquirindo as “competências e habilidades” necessárias à formação de um profissional de Letras? Estão se formando alunos capazes – como pregam as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Letras – de “articular a reflexão teórico-crítica com os domínios da prática”? Ou, ainda: para que estão sendo formados? É possível dizer que nosso curso tem uma “vocação profissional”? Se sim, por quê? Se não, por quê?...

Está claro que o debate não se daria só com alunos do quarto ano, mas de todas as turmas. Concebemos o forum como um espaço plural, dinâmico, direcionado por temas (falaremos disso a seguir); como uma via alternativa para a otimização do curso de Letras da Unifesp, na medida em que das discussões e debates sobrevirão parâmetros avaliadores, diagnósticos e prognósticos. Para além disso, deve-se fundamentalmente tomá-lo como espaço de direito: direito de ouvir, direito de falar, de interrogar – de uma tal flexibilidade e horizontalidade que, muitas vezes, a sala de aula não permite.

O forum, conforme os primeiros cortornos que lhe demos, seria um dia no Anfiteatro, dividido em quatro temas, dois para cada turno. O evento está pré-agendado para dia 8 de maio, terça-feira, levando-se em consideração a disponibilidade do teatro que é concorrida. No entanto, a intenção é que os professores mesmo, se consentirem, decidam entre si a melhor data e nos informe da decisão até daqui a uma semana.

Listamos abaixo mesas e temas pré-definidos e uma descrição breve de cada um:

Tema 1 – Diretrizes políticas e/ou ideológicas que fazem a especificidade e identidade do curso na Unifesp, ou que o caracterizam.
Existe um viés acadêmico-ideológico para o curso? O departamento tem o seu viés, ou cada professor o segue à sua maneira? Que tipo de discurso ou ideologias os formandos desse curso levarão consigo para fora da universidade? Em outras palavras: como são vistas as diretrizes do curso - se estas, é claro, existem? Pode-se falar em termos de uma identidade do curso de Letras da Unifesp?

Tema 2 – Perfil do aluno ingressante hoje nas universidades do REUNI, particularmente na Unifesp (perpassando nosso curso), e a demanda de políticas de permanência institucionais e acadêmicas.
Recentemente, a Coordenadoria de Ações Afirmativas e Políticas de Permanência da PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis) apresentou os resultados de uma pesquisa realizada nos diversos campi sobre o perfil socioeconômico e cultural dos estudantes da Unifesp. Estatísticas foram levantadas e, comparando-se os gráficos, constatou-se a peculiaridade do campus Guarulhos quanto a carências mais prementes. Seria legal, portanto, inicialmente expor esses resultados a discentes e professores, com foco para o perfil do aluno em Letras. Esta mesa prepararia o debate para a próxima.

Tema 3 – Como superar a defasagem na formação do aluno que chega à universidade? Encararemos tal realidade, dispostos a pensar meios de mudá-la, ou vamos ignorá-la, supondo com isso “padrões” para estar na academia?
As políticas compensatórias de cunho econômico já existem, porém são outras das quais falamos. Não é novidade, hoje, que grande parte dos alunos egressos do ensino médio público chegam à universidade com lacunas em sua formação e carentes de contéudos considerados básicos. Exemplo mor em nosso curso são os dificuldades gramaticais e de redação que atravancam o bom desempenho do aluno e – diga-se de passagem – comprometem a dita “excelência” da instituição Unifesp. As próprias Diretrizes Curriculares Nacionais (e a nossa grade curricular) são claras em que o profissional em Letras tenha domínio do uso da língua portuguesa, das literaturas alvo de seu estudo e – aquilo que é pilar – “domínio dos conteúdos básicos que são objeto dos processos de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e médio”.
As perguntas que se colocam então são: como desejar uma graduação de qualidade se se negligenciam tais empecilhos? Até que ponto isso configura um problema em nosso curso? Buscaremos estratégias, trabalhando de maneira inclusiva, ou culparemos o ensino básico, dando as costas aos que não atingem um patamar esperado?

Tema 4 – Formar pra que? Aberturas do bacharelado e da licenciatura; fronteiras entre pesquisa e docência.
Embora conste, em nossa grade curricular, que o curso contempla um leque de possibilidades profissionais (pesquisador, revisor de textos, tradutor, assessor cultural etc), parecem questionáveis as condições ou probabilidades que se criam na graduação para esse leque, talvez devido a abordagens insuficientes ou a sobrevalorizações profissionais. Como lidar com o conflito de interesses dos alunos? Como se concebe e quais as fronteiras entre pesquisa e docência? Em que medida exercita-se, em sala de aula, a consciência crítica do compromisso ético, da “responsabilidade social e educacional” e da atuação consequente no mundo do trabalho? Nesta última mesa, ou em adendo, talvez caiba um tempo final para sanar dúvidas sobre a grade e o estágio.

Enfim, seria esse o roteiro do forum. Entenda-se como algo mais ou menos fechado, passível de sugestões de alterações e/ou reformulações. Estávamos pensando, para cada mesa, um ou dois professores que se sentirem convidados ou a serem escolhidos pelo colegiado. Também para cada mesa, um ou dois alunos a se indicar.
Reforçamos a importância do evento, um momento em que alunos e professores estarão pensando em prol do curso, de seu aperfeiçoamento contínuo. Importaria, assim, a presença de todo o corpo docente. Se a proposta for aceita, pedimos por gentileza que sejam, dentro de uma ou duas semanas, tirados nomes para as mesas e informados juntos com a data.

Agradecemos muito a atenção.

Sem mais,
Centro Acadêmico dos Estudantes de Letras (CAEL)
Gestão Letras em Ação: Inovar para Transformar

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